Cover Records - Isso é Amor - Ira! [1999]

O Ira! foi uma das minhas bandas favoritas de rock nacional, talvez pela questão de sermos paulistanas (eu e a banda) ou talvez pela sonoridade mais punk rock com letras mais "engajadas" eles tenham me ganhado.

Edgar Scandurra, um adolescente fã ardoroso do punk rock no final dos anos de 1970, decide formar uma banda. Como procurava pelos subúrbios de Sampa por novos sons, nomeou a banda de Subúrbio.

Lembro de uma entrevista em que ele conta como conheceu Nasi na escola e que no começo não se topavam e que ele achava o cara muito estranho. Mesmo assim, perceberam que tinham gostos em comum e que participar da banda de Edgard (e do amigo dele, Dino) seria uma boa para Nasi.

O punk rock corria na veia de todos e, em 1981, eles se tornariam o Ira. Exatamente por causa do Exército Repúblicano Irlandês. Nessa mesma entrevista, lembro de que, acho que o Nasi, comentou um dos problemas com o nome: um fã quase foi preso em Londres com a camiseta da banda, porque acharam estar diante de um militante norte-irlandês e não de um paulistano fã da banda brasileira. Dai, para acabar com os problemas - apesar de realmente o nome vir do Irish Republic Army - a exclamação apareceu e deu uma ideia de se falar no pecado capital e que a ira merece ter uma interjeição.

Falando em exército: Núcleo Base foi composta por Edgard enquanto ele servia à pátria amada.

A banda fez bastante sucesso na década de 1980, ouvi muito aquela história de ser uma banda bairrista (paulista, meu!), levavam entre o público de fora do estado esse rótulo (até de amigos "não-paulistas" ouvi isso) e me pergunto se o sucesso foi só aqui em Sampa e só com o sucesso no final dos anos de 1990 é que isso mudou...

Fizeram grandes álbuns durante a primeira década de vida e grande sucesso com música de abertura de novela da Globo, em 1987. É, antes de forrozinho sacana, houve cérebro pensante nas trilhas de novelas...


Depois, segundo consta, a banda preferiu seguir um caminho mais próximo às raízes punk rock entre outras sonoridades e ficar um tanto longe do mainstream.

Dizem também que isso aconteceu por problemas que tiveram no Hollywood Rock de 1988, o segundo Hollywood Rock e que faz uma falta! O certo é que lançaram, logo depois o álbum Psicoacústica, considerado um dos melhores deles... isso que foi ostracismo!

Lançaram grandes álbuns além deste, mas voltaram com força para a grande mídia quando lançaram em 1999 Isso É Amor, esse CD de covers homenageando artistas que os influenciaram ou não, que apenas curtem as músicas, são amigos das bandas etc.

Só para vocês já terem uma ideia tem música do Ronnie Von (mas apesar de ser o príncipe da Jovem Guarda, ele tem discos extremamente psicodélicos dos anos 70, considerados marcos históricos da música brasileira e poucos sabem disso!), Lô Borges e Wander Wildner. Quer maior ecletismo que isso? Participam do álbum dois mineiros: Fernanda Takai em Telefone e Samuel Rosa em Um Girassol da Cor de Seu Cabelo (cadê o bairrismo, mano?).

A tracklist:
  1. Bebendo Vinho - Wander Wildner
  2. Teorema - Legião Urbana
  3. Telefone - Gang 90
  4. Chorando no Campo" - Lobão
  5. Flash-Back - Dalto
  6. Um Girassol da Cor de Seu Cabelo - Lô Borges
  7. Mudança de Comportamento - Ira!
  8. O Que Me Importa -Tim Maia
  9. Jorge Maravilha - Chico Buarque
  10. Abraços e Brigas - Edgard Scandurra e Taciana Barros
  11. Sentado à Beira do Caminho -  Roberto & Erasmo Carlos
  12. A Vida Tem Dessas Coisas - Ritchie
  13. Alegria de Viver- Ray Heredia
  14. Minha Gente Amiga - Ronnie Von

Reparem que o Ira! faz cover do próprio Ira (ainda da época sem interjeição) com Mudança de Comportamento e Abraços e Brigas é da carreira solo de Edgar Scandurra. Uma das minhas preferidas do álbum: 


Durante os anos de 1999 e 2000 o Ira! fez shows pelo Brasil inteiro com a turnê desse CD. Um desses shows eu presenciei  no Centro Cultural São Paulo, em 2000 - de graça. Imaginem a disputa por ingressos. Tanta disputa que num show de domingo, (não tenho certeza se era de Carnaval, mas foi em fevereiro) o Ira! resolveu não deixar seus fãs irem embora tristes e aceitaram fazer um show extra pra quem estava tentando conseguir um ingresso desde às 14h daquele domingo, assim como eu.

Depois de um show às 19h, o Ira! volta ao palco para o pessoal das 21:30h que estava eufórico, assim como eles: mostraram estar muito alegres de voltarem pra um segundo show e perceberem o quanto eram queridos (e ainda são apesar do fim da banda). Deve ter sido a grande recompensa.

Para nós, foi: ainda ouvimos grandes sucessos da banda que não estão presentes neste álbum de 1999. Lembrei desse CD porque, anos depois, quando conheci o Persiolino e conversávamos sobre o Ira!, descobrimos que estávamos os dois naquele segundo show do CCSP e ele ainda me contou que foi ele e os amigos que puxaram o coro: Pobre Paulista! Pobre Paulista! Que fechou o show.

Nós, os bairristas rs.

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2 Comentários
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  1. Aquele show foi histórico. Quem cantou Telefone com o Ira! foi a Vanessa Kongrold, na época, do Maybees...

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  2. Gosto de Ira! também, até o Acústico MTV deles é bom, retomando outros resultados bem sucedidos do projeto, como Titãs e Paralamas.

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