0124 - I Want To Stay (Eu e a Brisa) - Lani Hall [1981]

O senso comum sempre se lembrará de Johnny Alf como o criador da Bossa Nova. Aliás, a Bossa Nova que o nunca consagrou e não deu o devido reconhecimento (Johnny acabou se mudando do Rio para São Paulo no auge do movimento, se sentindo um pouco menosprezado após o sucesso de contemporâneos como Tom Jobim e João Gilberto).

Me arrisco a dizer que mesmo se eternizado como o “Pai da Bossa Nova” isto não o agradaria por completo, pois o que Johnny Alf queria mesmo era expressar sua arte. Não pensava em compor músicas para agradar as gravadoras (que diziam que elas “não eram comerciais o bastante”).

Ele era apenas um rapaz de bem, que cantava as amarguras de amar e não ser amado. Penso que ele gostaria mesmo é que suas músicas fossem escutadas pelo coração. Algo que tocasse lá no fundo da alma de cada um de seus ouvintes. E por essas e outras que não há como não se emocionar com suas composições. Composições como Eu e a Brisa...


Como uma música tão bonita quanto essa pode ter sido desclassificada dum Festival? E agora, como puderam comemorar os 50 anos de Bossa Nova passando quase desapercebidos por sua obra?

Desapercebido aqui e reverenciado lá fora...

Johnny Alf recebeu muitos convites para sair do país. Recebeu convite da grande cantora americana Sarah Vaughan para se apresentar no exterior, mas deixou passar. Pelo jeito, ele queria ficar por aqui mesmo. Nem sequer viajou para se apresentar no histórico concerto dedicado a Bossa Nova no Carnegie Hall em 1961. O fato é que mesmo se apresentando entre Rio e São Paulo, sua arte ultrapassou fronteiras. Muitos dos músicos e cantores que conheceram o trabalho de Johnny saíram do país e levaram sua música para outros cantos do planeta.

Foi assim que a cantora norte-americana Lani Hall conheceu a música de Johnny. Ela foi introduzida a música brasileira por Sérgio Mendes. Diferentemente de Johnny, Sérgio nunca se recusou a sair do Brasil e logo se aproveitou do sucesso da Bossa Nova nos EUA para emplacar um enorme sucesso com seu grupo Brasil ’66, o qual Lani era a vocalista principal.

Mesmo sem falar português fluentemente, Lani cantava como uma autêntica Brasileira apaixonada por nossas músicas. De tão apaixonada, Lani gravou A Brazileira Lani Hall, disco lançado em 1981. Neste trabalho existem pérolas de Dorival Caymmi (O Samba da Minha Terra), Chico Buarque (Trocando Em Miúdos), Djavan (Pára-raio) só para citar alguns artistas que Lani homenageou, cantando em um português praticamente perfeito, sem sotaques. E claro, num disco que homenageia a música brasileira, Lani Hall não deixou Johnny Alf de fora. E foi além: ela própria escreveu a letra de I Want To Stay, uma adaptação para Eu e a Brisa...


Carioca, filho de empregada doméstica e de pai morto em combate durante a revolução de 32, Johnny Alf ou Alfredo José da Silva se foi como uma brisa no último dia 04 de Março. Em seus últimos dias como “Silva”, estava numa clínica para idosos em Santo André, lutando praticamente só contra um câncer. Como Johnny Alf, espero que seja lembrado como um dos maiores músicos brasileiros, muito mais que um inventor de um estilo. E este post é uma pequena homenagem a ele, músico genial, simplesmente "GeniAlf".

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1 Comentários
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  1. como eu sempre digo: sou uma analfabeta em mpb e que tais.
    neste momento, me sinto além de analfabeta com uma senhora dor na consciência por não conhecer a obra de alguém que devia tocar com a alma.

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