Discovers - The Stone Roses - The Stone Roses [1989]

(Discovers é um tópico do 1001 Covers que se dedica a trazer covers para todas faixas de um disco clássico - caso tenha alguma sugestão escreva para 1001covers@gmail.com)


Em maio de 1989, ou para ser mais exato, há 30 anos e 6 meses, era lançado o primeiro disco da banda Stone Roses. E por mais que tenhamos muita informação disponível atualmnte, parece que estamos nos esquecendo dos discos que construíram uma história relevante na música contemporânea. The Stone Roses, o álbum homônimo, é sem dúvida um destes discos relevantes e, certamente, um dos mais perfeitos discos de estreia de todos os tempos. E não há exageros em tal afirmação. Basta ler as opiniões sobre este disco e depois, obviamente, ouvi-lo e tirar suas próprias conclusões.

Para mim, a perfeição deste disco encontra-se no fato de conseguirem mesclar de uma forma tão coesa e única várias referências musicais e políticas de um jeito fluído e dançante, sem ser rebuscado demais, sem ser rock demais, psicodélico e ao mesmo tempo pop sem ser pop demais. É fácil encontrar no disco influências aqui e acolá das fases mais psicodélica dos anos 60 vindo dos Beatles, Byrds e Kinks. Tudo junto e misturado com as referências dos anos 80 de Clash, New Order e Smiths.

Porém, não é fácil e não é sempre que um grupo de jovens consegue capturar todas estas influências e construir músicas com guitarras harmoniosas, cheia de grooves dançantes (como é caso de Shoot You Down e Waterfall), com letras relevantes e que tinham embasamento político (como no caso de Bye Bye Badman que faz referências ao movimento estudantil de maio de 1968 na França), entoando ainda de quebra um pop-romântico sem ser piegas (como em This Is The One). Muito menos posicionar tudo isto de uma forma natural numa estética musical própria que seria o ponto de partida para o Britpop dos anos 90.


Talvez, a peça chave para esta coesão esteja no jeito meio desleixado de ser de Ian Brown, mas ao mesmo tempo saber impor seu vocal energético junto das guitarras de riffs dançantes de John Squire. Ou talvez seja a combinação perfeita da linha de baixo hipnotizante de Gary “Mani” Mounfield com as batidas ritmadas de Alan “Reni” Wren. Talvez, os acasos da vida que fizeram Peter Hook não ser o produtor do disco e deixar a cargo de John Leckie, produtor e engenheiro de som que participou de discos de John Lennon, George Harrison e do Pink Floyd (para posteriormente produzir também The Bends do Radiohead e Origin of Symetry do Muse). Talvez o fato dos Stone Roses participarem do club Haçienda e viverem a Madchester do final dos anos 80 (regados a eletrônica, cultura rave e ecstasy). Ou talvez seja a somatória de tudo isto.

Mas de fato este primeiro disco marcou o início, o auge e, ironicamente, o próprio fim do grupo. Os Stone Roses se findariam após o segundo álbum (o Second Coming de 1994, gravado em meio a longa disputa judicial entre gravadoras), com o envolvimento dos componentes com drogas pesadas, egos aflorados e brigas internas, culminando com a saída de John Squire em 1996, justamente no ano do auge do Britpop. Meu sentimento era que nunca mais veríamos os Stone Roses e nada superaria este disco debut. Porém, os Stone Roses anunciariam a sua volta em 2011 com uma turnê e shows ao redor da Grã-Bretanha, com ingressos rapidamente esgotados e todos os fãs loucos e sedentos para ouvir ao vivo hinos como I Wanna Be Adore, I Am The Ressurection ou Made of Stone. E quando em 2017 os Stone Roses decidiram parar mais uma vez, uma legião de novos fãs de uma nova geração havia se construído e a história deste disco se perpetuado.

Portanto, um disco como este não deve ser considerado com um simples lançamento, mas sim um fenômeno que continua a reverberar, deixando legados e, claro, covers ao longo dos anos. Infelizmente não há muitas reinterpretações ou tributos a este clássico. Provavelmente não os ter aos montes fazem com que as versões originais se tornem praticamente definitivas. Mas elas existem e, neste ano em que foram completados 30 anos deste lançamento, tentamos selecionar as melhores covers para cada uma das faixas. Confira:

01 - I Wanna be Adored - Death Cab For Cutie [2000]
I wanna be adored deve ser uma das faixas de abertura mais emblemática da história da música para um disco de estréia. Afinal de contas, é muita ousadia este certo tom de arrogância logo numa primeira música de um primeiro disco. Mas ao contrário do que possa soar, Ian Brown ele queria dizer o oposto. Em 2009, numa entrevista para Clash Magazine, disse suas próprias palavras, “que não queria que as pessoas me adorassem. Eu estava tentando dizer então, se você quer ser adorado, é como um pecado, como luxúria ou gula ou algo assim”. Num outro trecho da música que diz “I don’t have to sell my soul, it is already in me”, demonstra real desejo de não se vender comercialmente falando e preservar sua essência (alma) criativa. Tal impacto gerado por esta canção gerou também várias covers. Já publicamos aqui uma ótima versão do duo The Raveonettes para esta música, mas também existem covers gravados por artistas como Peter Doherty, King Woman e até o Metallica apresentou recentemente sua cover num show em Manchester. Em 2000, um pouco antes do lançamento do seu segundo álbum We Have the Facts and We're Voting Yes, a banda norte-americana Death Cab For Cutie fez uma cover ao vivo de I wanna be adored be ao seu estilo, não modificando em quase nada os arranjos originais. E o resultado é muito bom!


02 - She Bangs the Drums - Harmania Indie Choir [2019]
O coral indie Harmania, foi criado em outubro de 2015 na Irlanda pela professora de música Róisín McGrath, além de cantar música clássica e tradicional gosta mesmo de música índia, desde Bowie a Bronski Beat, passando por Neil Young, Orbital e, claro, Stone Roses. Neste ano de 2019, o Harmania gravou uma linda interpretação de She bangs the drums só no gogó e num ótimo arranjo de teclados.


03 - Waterfall - The Parkas [2015]
E é incrível como os quatro integrantes, Brown, Squire, Mani e Reni conseguem interagir e entregar um som tão harmonioso como em Waterfall. Squire faz um excelente trabalho em posse de sua guitarra combinado com base de Mani no contrabaixo. Ian Brown cantando em conjunção com Reni nas bateras. Em 2015, o grupo inglês The Parkas gravou uma cover muito bem arranjada, revivendo toda essa belezura de som.


04 - Don't Stop - Flaming Lips feat. Stardeath and White Dwarfs [2013]
Don’t stop foi concebida a partir da ideia de se tocar Waterfall de trás para frente. Esta não era a primeira vez que os Stone Roses faziam algo do gênero. A primeira vez que eles fizeram isto foi com a música Elephant Stone, onde a faixa reversa ganhou o título de Full Fathom Five. Porém em Don’t Stop, a ideia ficou mais elaborada, ganhando letra própria. Em 2013 foi lançado o disco The Time Has Come To Shoot You Down…What A Sound produzido pelo grupo norte-americano Flaming Lips que contou com a participação de diferentes bandas com o objetivo de reproduzir todas as faixas do primeiro disco dos Stone Roses. A versão de Don’t stop contou com a participação da banda de rock experimental Stardeath and White Dwarfs e não me pareceu ser tão ruim assim. Certamente, não é a melhor cover deste disco, porém eles conseguiram a sua maneira fazer uma cover mais puxada para eletrônica de uma música muito difícil de ser reproduzida.


05 - Bye Bye Badman - The Vinyl Skyway [2006]
A banda de rock The Vinyl Skyway foi formada em 2003 em Boston, EUA e gravou em 2006 uma ótima cover de Bye Bye Badman com distorções de guitarras. A intenção talvez fosse a de dar um ar de protesto a uma música que originalmente relembra do levante de 1968 dos estudantes franceses contra o governo de Charles De Gaule e o capitalismo. Ian Brown disse em entrevista a revista Q Magazine que ao assistir um documentário na TV sobre aqueles protestos imaginou um estudante cantando os versos “Choke me, smoke the air, in this citrus-sucking sunshine I don't care” na cara de um policial armado. Como curiosidade, o limão que está na capa do disco dos Stone Roses foi uma forma de “homenagear” e relembrar os protestantes franceses que usavam a fruta para se proteger dos efeitos do gás lacrimogênio lançado pelos policiais.


06 - Elizabeth My Dear - Flaming Lips feat. Kesha and New Fumes [2013]
Mais uma faixa do disco The Time Has Come To Shoot You Down…What A Sound feito pelo Flaming Lips com a parceria de vários artistas. Nesta faixa, a cantora Kesha e o banda New Fumes recriaram um cântico antigo que originalmente teve sua letra alterar por Ian Brown no claro intuito de se posicionar contra a família real Britânica. Já a cover com a cantora Kesha nos vocais teve a sonoridade acústica original deixada mais de suporte para ganhar ares mais eletrônicos efeitos sonoros que dão um ar mais obscuro a canção.


07 - (Song for my) Sugar Spun Sister - Flaming Lips feat. HOTT MT [2013]
Outra faixa do disco The Time Has Come To Shoot You Down…What A Sound que contou com a partipação do grupo HOTT MT que tem nos vocais a cantora Ashleigh Allard. Sua voz delicada misturada aos efeitos especiais do arranjo feito para (Song for my) Sugar Spun Sister parecem sair de um jogo de videogame. Confira:


08 - Made of Stone – Litmus [2003]
O Litmus é foi um quarteto de cordas formado por estudantes de música o qual decidiram recriar clássicos do pop rock de grupos de sua cidade natal, Manchester, em versões clássicas. Desta feita, surgiram versões belíssimas de músicas como Love Tear Us Apart do Joy Division e This Charming Man dos Smiths. Mas obviamente o destaque aqui vai para Made of Stone que cujo arranjo me fez relembrar de Eleanor Rigby.


09 - Shoot You Down - I Am the World Trade Center [2002]
O duo synthpop formado por Daniel Geller e a vocalista Amy Dykes lançaram a cover de Shoot You Down para o seu segundo disco The Tight Connection de 2002. Esta cover de Shoot You Down ficou para lá de eletrônica, cheia de efeitos sonoros e batidas dançantes muito parecido com a sonoridade do grupo Stereolab, bem diferente dos riffs guitarras dançantes e hipnotizantes da versão original produzida pelas mãos de John Squire.


10 - This Is the One – Richard Thomas [2010]
Cover produzida para o disco Stone Roses For Piano - Second Symphony lançado em 2010, feito pelo pianista Richard Thomas. Apenas utilizando o seu piano, Richard Thomas fez um arranjo que se encaixou muito bem em This Is The One. Além de This Is The One este disco traz outros clássicos da banda de Manchester apenas ao piano. Vale a pena conferir.


11 - I am The Ressurrection - Codeine Velvet Club [2009]
I am The Ressurection, que faz referências a Bíblia, traz em sua versão original linhas de guitarras sensacionais e bem dançantes. Não a toa os Stone Roses tenha colocado esta faixa propositadamente para fechar o disco num claro sinal de que o rock estava ali, renascendo, num novo formato! Em 2009 o grupo escocês formado pela cantora e compositora Lou Hickney e Jon Lawler (a.k.a. Jon Fratelli) da banda Fratellis fizeram uma excelente cover bem ao estilo surf music dos anos 60 com menos riffs de guitarra é verdade, mas num estilo bem próprio que ficou muito boa para sair dançando ao melhor estilo twist de sacolejar o corpo.


Faixa Bonus - I am the Resurrection - Scott Weiland [2011]
O saudoso vocalista do Stone Temple Pilots e do Velvet Revolver gravou várias covers de músicas de bandas e artistas que inspiraram sua carreira. Destas gravações surgiu uma coletânea digital intitulada A Compilation of Scott Weiland Cover Songs. E para a surpresa de muitos, logo de cara, a primeira música deste disco é justamente I am The Resurrection, num arranjo bem parecido com o arranjo original. Uma ótima reinterpretação sempre na ótima voz de Scott Weiland, que disse ao vivo num show que não ser um cara do LSD mas adorava o som estilo "Party Club" produzido pelo Stone Roses.


E no Spotify você pode conferir também a playlist alternativa para este álbum:


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